FliMUJ

2º Festival Literário
Museu Judaico SP

E se eu me esquecer de ti?

A tradição judaica é repleta de referências sobre a importância da lembrança e o perigo do esquecimento. Para um povo diaspórico, vivendo em pequenas comunidades em meio a outras nações, a percepção de passado e destino comuns, calcada na memória, funda laços de solidariedade.

Na perspectiva religiosa, a memória chega a constituir um mandamento. A obrigação de lembrar e a instrução para que não se esqueça aparecem na Bíblia Hebraica inúmeras vezes. Ademais, contar e encenar as histórias que não devem ser esquecidas é parte central dos rituais ao longo do ano.

Lembrar talvez seja uma maneira de reter, por outras vias, aquilo que foi perdido. “Zikhrono Livrakha” (“de abençoada memória” ou “que a sua memória ser uma bênção”) é a maneira pela qual judeus honram os mortos. E é a lembrança da destruição do Templo de Jerusalém, por exemplo, que leva judeus a quebrarem um copo no dia de seu casamento e a deixarem parte de suas casas sem acabamento. “O judaísmo é uma religião do tempo visando a santificação do tempo”, escreve Abraham Joshua Heschel. “Um relicário”, diz ele, “que nem os romanos nem os alemães foram capazes de queimar”.

Entretanto, também de uma perspectiva secular não se pode esquecer. Após a Shoá, lembrar o genocídio dos seis milhões de judeus tornou-se um imperativo ético. “Nós lembramos”, diz o slogan. E, em Israel, o “Dia da Memória” (Iom Hazicaron), celebrado em 4 de Iyar, às vésperas do Dia da Independência (Iom Haatzmaut), rememora os Soldados Mortos e as Vítimas do Terrorismo.

A segunda edição do FliMUJ irá discutir os diversos usos que são feitos da noção de dever de memória. Se uma sociedade não existe sem seu passado, desde suas tradições até o enfrentamento das chagas resultantes de projetos desumanos – a escravização, o extermínio ou o colonialismo de forma mais ampla –, o indivíduo submetido a eventos traumáticos deve poder esquecer.

O imperativo da memória, afinal, recai sobre as vítimas da violência ou sobre seus algozes? Quem lembra e quem esquece? Se a memória é constitutiva dos indivíduos e das sociedades, o esquecimento parece ser privilégio dos autores de projetos de destruição. Das vítimas, espera-se equivocadamente que aprendam com o sofrimento, quando se sabe que a violência não pode jamais desempenhar função pedagógica. Pensada sob a ótica das dores individuais, a memória pode ser uma condenação paralisante, que leva à melancolia. Se não estiver atrelado ao trabalho do luto, como sustenta a psicanálise, o lembrar-se constante é sinônimo de sofrimento.

Como pensar nessas questões sem perder de vista que estamos no Brasil, país violento em que as populações negras e indígenas foram submetidas a escravização e espoliação, resultado de um projeto colonial que deixa como herança uma sociedade desigual, racista e autoritária? Como refletir sobre isso dentro de um museu judaico, que abriga a história de um povo milenarmente perseguido e vítima de um genocídio que, pelo horror, reorienta a história do século XX, e que tem no culto à memória parte fundante de sua cultura?

O exílio do povo judeu levou à promessa do profeta Jeremias:

Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que minha mão direita perca sua destreza. E que minha língua fique grudada em meu palato. Se eu não me lembrar de ti.

Mas de que Jerusalém falava ele? A geografia da cidade? Suas muralhas? Seus reis? Ou os povos que ali viviam? Em “Turistas”, poema de Yehuda Amichai, não há dúvidas: o imperativo da memória é deslocado das ruínas históricas das edificações para as pessoas comuns.

Estão vendo ali o arco da época romana? Tanto faz.

Mas do lado dele, um pouco à esquerda e abaixo dele, está sentado um homem que comprou frutas e verduras para sua casa.

Nesse espírito, reconhecendo o caráter arbitrário e sempre inacabado da memória, que exige um engajamento permanente em sua construção, e percebendo que ela pode servir tanto à abertura à alteridade como ao ensimesmamento, buscaremos discutir as conexões entre memória e identidade.

Porque, se eu me esquecer de ti, o que será de ti? E o que será de mim?

Daniel Douek e Rita Palmeira
curadores

programação

MESAS FliMUJ 2023 | E se eu me esquecer de ti?

Mesa 1 | 30.11, quinta-feira, 19h

Quem se lembra dos judeus?

Com David Baddiel
mediação de Giselle Beiguelman

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Por que os judeus são constantemente excluídos das discussões sobre discriminação? Por que não figuram entre as minorias políticas? O comediante e escritor britânico sustenta em seu livro Os judeus não contam, recém-lançado no Brasil, que essa ausência revela que, ao contrário de outros preconceitos, o antissemitismo é ainda hoje admitido entre progressistas.

Comediante, escritor, roteirista, apresentador de televisão e ativista judeu. Após a publicação do seu polémico best-seller Judeus não contam, Baddiel tem estado na vanguarda do combate ao antissemitismo nos meios de comunicação social, no esporte e, mais amplamente, na esquerda progressista. Seu livro se tornou o Livro do Ano de Política e Atualidades do Sunday Times de 2021 e foi aclamado pela crítica no Reino Unido, Europa e EUA. Em 2022, Judeus não contam foi adaptado para um documentário para o Canal 4.

Artista e professora da FAU-USP, é autora de Políticas da imagem: vigilância e resistência na dadosfera (Ubu, 2021) e Memória da amnésia: políticas do esquecimento (Edições Sesc, 2019), entre outros. Suas obras artísticas integram acervos de museus no Brasil e no exterior, como ZKM (Alemanha), Jewish Museum Berlin, MAC-USP e Pinacoteca de São Paulo. Em seus projetos recentes investiga a construção do imaginário colonialista das artes e das ciências com recursos de Inteligência Artificial. É coordenadora do Projeto Temático Fapesp Acervos Digitais e Pesquisa. Recebeu vários prêmios internacionais.

Mesa 2 | 01.12, sexta-feira, 16h

Judeu é branco?

com Cida Bento e Michel Gherman
mediação Thais Bilenky

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Num país racista como o Brasil, o lugar do judeu é ambivalente. Se, por um lado, quem tem a pele clara beneficia-se de inúmeros privilégios relativos às perspectivas de ascensão social e à própria possibilidade de manter-se vivo, por outro, a insistente presença do antissemitismo lembra que judeus não chegam a ser plenamente brancos. Nesse sentido, que alianças são possíveis entre negros e judeus na construção de uma sociedade verdadeiramente democrática? E quais os seus limites?

Doutora em Psicologia pela Universidade São Paulo. Participou da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia e foi conselheira do Conselho Nacional de Segurança Alimentar da Presidência da República. É autora de diversos livros, entre eles O pacto da branquitude (2022).

Professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde coordena o Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos e o Laboratório Extremos: política, violência e religião. Ele é pesquisador do Centro de Estudos de Sionismo e Israel da Universidade Ben Gurion do Negev, onde concluiu seu pós- doutorado sobre o uso da Israel imaginária na nova extrema direita. Michel é também pesquisador do Observatório da Extrema Direita. É doutor em história pela UFRJ e mestre em Antropologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém, de onde foi professor convidado e hoje onde hoje atua como pesquisador do Centro Vital Sasson de Estudos de Antissemitismo. Hoje, coordena pesquisa sobre gramática do novo antissemitismo na extrema direita pró-sionista, pesquisando comparativamente casos de Israel, Brasil e EUA.

Jornalista, trabalhou na Folha de S.Paulo, onde foi editora de artigos, correspondente em Nova York e repórter em São Paulo e Brasília. Na revista piauí, apresentou os podcasts Foro de Teresina e Alexandre.

Mesa 3 | 01.12, sexta-feira, 18h

Bom, agora a gente pode começar?

Com Cíntia Moscovich e Jacques Fux
mediação de Rita Palmeira

 

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Esta mesa reúne dois escritores que, em sua obra, exploram a memória familiar e identidade judaica. Em Por que sou gorda, mamãe?, de Moscovich, e em Antiterapias, de Fux, por exemplo, o ato de lembrar tem função de elaboração da identidade de quem narra. O nome da mesa alude à frase final do célebre romance do escritor norte-americano Philip Roth O complexo de Portnoy.

Escritora, jornalista e mestre em Teoria Literária. Há 20 anos, coordena a Oficina do Subtexto. Autora de oito livros, entre os quais Por que sou gorda, mamãe? e Essa coisa brilhante que é a chuva. Recebeu os prêmios Açorianos (Secretaria Municipal da Cultura), Jabuti (Câmara Brasileira do Livro), Portugal Telecom e Clarice Lispector, da Fundação Biblioteca Nacional.

Escritor, com doutorado em Literatura pela UFMG e pela Université de Lille 3. Autor de 15 livros, entre eles: Literatura e matemática (Perspectiva, 2016, Prêmio Capes), Antiterapias (Maralto, 2012, Prêmio São Paulo de Literatura), Brochadas (Rocco, 2015, Prêmio Nacional Cidade de Belo Horizonte) e Meshugá: um romance sobre a loucura (José Olympio, 2016, Prêmio Manaus de Literatura; Nobel (José Olympio, 2018).

Crítica literária, curadora da Livraria Megafauna e cocuradora da 2a edição do Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo. Foi editora da revista Novos Estudos Cebrap, editora-assistente da Três Estrelas (selo editorial do Grupo Folha) e professora da Facamp. Doutora em literatura brasileira pela USP e mestre em teoria literária pela Unicamp, foi professora temporária de literatura brasileira na Universidade de São Paulo.

Mesa 4 | 01.12, sexta-feira, 20h

Tal mãe, tal filha?

Com Micheline Alves e Vera Iaconelli
mediação de Marilia Neustein

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A guerra entre Israel e o Hamas traz consequências também para quem vive a milhares de quilômetros do Oriente Médio. A dor desencadeada pelas cenas de violência e o bem-vindo desejo de agir para transformar a realidade podem produzir percepções que confundem governos e sociedades, Estados e povos, resultando na inviabilização do diálogo com o outro, transformado em inimigo. Nesta mesa, uma jornalista e uma psicanalista, ambas mães não judias, cujas filhas mantêm relações com o judaísmo e com Israel, conversam sobre imaginários, cancelamentos e interditos que ameaçam todos nós.

Jornalista e roteirista de televisão. Trabalhou durante vinte anos em publicações impressas e projetos digitais e, desde 2017, é pesquisadora e redatora dos programas Conversa com Bial e Som Brasil, da TV Globo. Mora em São Paulo e tem duas filhas.

Psicanalista, fundadora e diretora do Instituto Gerar de Psicanálise. Doutora em psicologia pela USP, é colunista da Folha de S.Paulo, autora dos livros O mal-estar na maternidade e Criar filhos no século XXI e co-organizadora da coleção Parentalidade & Psicanálise (com Daniela Teperman e Thais Garrafa).

Jornalista e diretora de comunicação do Museu Judaico de São Paulo.

Mesa 5 | 02.12, sábado, 11h

Você acha que alguém como você
pode escrever sobre a Shoah?

Com Colombe Schneck e Michel Laub
mediação de Adriana Ferreira Silva

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Como se pode narrar a barbárie não testemunhada? Como contar o extermínio gerações depois? A narração é uma forma de reparação? Para quem? Nesta mesa, dois escritores de nacionalidades, trajetórias e obras distintas debatem, a partir dessas questões, a dimensão ética da escrita.

Esta mesa tem o apoio da Embaixada da França no Brasil.

Escritora, jornalista e diretora de documentários francesa. Autora de onze livros de ficção e não ficção, recebeu prêmios da Académie Française, da Madame Figaro e da Society of French Writers, além de ter sido finalista dos prêmios Renaudot, Femina e Interallié. Tem uma obra de forte teor autobiográfico, plena de narrativas de filiação, relatos de infância, autoficções e romances autobiográficos. Seu livro Dezessete anos foi lançado na França em 2015 e é o primeiro livro de Schneck a ser publicado no Brasil.

Nasceu em Porto Alegre, em 1973, e vive em São Paulo. Escritor e jornalista, atualmente tem uma coluna sobre livros no caderno de cultura do Valor Econômico. Publicou oito romances, todos pela Companhia das Letras, entre eles: Diário da queda (2011), O tribunal da quinta-feira (2016) e Solução de dois Estados (2020). Seus livros saíram em 12 idiomas. Integrante da coletânea Os Melhores jovens escritores brasileiros, da revista inglesa Granta, o autor recebeu prêmios como o Jewish Quarterly – Wingate (Inglaterra), o Bravo Prime, o Bienal de Brasília e o Jabuti (segundo lugar). Seu novo romance, Passeio com o gigante, sairá no primeiro semestre de 2024.

Jornalista, escritora, mediadora, curadora e palestrante. Atua como colunista do jornal Nexo, curadora de literatura da revista Numéro Brasil e colaboradora da revista Quatro Cinco Um. Em 25 anos de carreira, foi correspondente em Paris e trabalhou nas redações das revistas Marie Claire, Vogue Brasil e Veja São Paulo, no jornal Folha de S.Paulo e como colunista da rádio CBN. Adriana é cofundadora da Grená – Agência de Criação e também atua como Head de Conteúdo da startup Galápagos Newsmaking.

Mesa 6 | 02.12, sábado, 14h

Quando foi que me descobri?

Com Bianca Santana,
Clarice Niskier e Márcia Mura
mediação de Fernanda Diamant

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“Tenho trinta anos, mas sou negra há dez”, escreve Bianca Santana. Ao narrar sua própria história, a autora de Quando me descobri negra deu visibilidade ao fenômeno de autorreconhecimento, compartilhado por pessoas das mais diversas origens: negras, indígenas, judias. A mesa abordará os processos de descoberta identitária como posicionamento em favor da legitimidade de ser o que se é.

Jornalista e escritora. Doutora em ciência da informação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e mestra em educação também pela USP. Autora de Diálogos feministas antirracistas (e nada fáceis) com as crianças (Camaleão, 2023), Quando me descobri negra (Fósforo 2023; SESI-SP, 2015), Arruda e guiné: resistência negra no Brasil contemporâneo (Fósforo, 2022), Continuo preta: a vida de Sueli Carneiro (Companhia das Letras, 2021).

Atriz, dramaturga e diretora de teatro. Foi indicada por quatro vezes ao Prêmio Shell de Melhor Atriz, e em 2008 ganhou o prêmio com o monólogo A alma imoral, sua adaptação para o teatro do livro homônimo do escritor e rabino Nilton Bonder, que está em cartaz há 17 anos, e já foi assistido por mais de 600 mil espectadores em todo Brasil. Atualmente, produz, dirige e interpreta, além de A alma imoral, as seguintes peças de seu repertório: Coração de campanha, de sua autoria, ao lado do ator Isio Ghelman; A lista, de Jennifer Tremblay, e A esperança na caixa de chicletes ping pong, também de sua autoria, baseada nas músicas de Zeca Baleiro.

Vive às margens do rio Madeira tecendo os fios de memórias ancestrais, entre as aldeias e espaços de seringais com rodas de conversa sobre modos de ser indígena e literatura indígena. É coordenadora do Coletivo Mura de Porto Velho, atua na retomada cultural e política do Povo Mura na Amazônia e no Movimento Indígena local e nacional. Integra o Instituto Madeira Vivo e o COMVIDA na luta contra a violação de direitos causada pelas hidrelétricas e outros projetos de infraestrutura. É neta de Francisca, mulher da floresta que, ao fazer sua passagem, viajou espiritualmente de volta para o seu lugar de origem: o lago do Uruapeara. “Eu sou a minha avó indígena”, diz.

Formada em Filosofia na USP. É uma das criadoras da editora Fósforo e da livraria Megafauna. Foi curadora da Flip 2019 e, junto com Bianca Santana, da primeira edição do FliMUJ, em 2022.

Mesa 7 | 02.12, sábado, 16h

A Baviera é aqui?

Com Betina Anton e Marcos Guterman
mediação de José Orenstein

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Após o fim da Segunda Guerra Mundial, muitos oficiais nazistas fugiram da Alemanha e encontraram abrigo em países democráticos, onde puderam viver impunemente. A presença de oficiais de Hitler no Brasil, como a do médico Josef Mengele, tem sido cada vez mais estudada e novas descobertas vêm à tona. A mesa abordará algumas delas, refletindo também acerca da construção da memória sobre o nazismo no país.

Nasceu em São Paulo e formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Fez mestrado em História Internacional na London School of Economics and Political Science (LSE) com uma bolsa Chevening do governo britânico. Tem mais de 20 anos de experiência como jornalista. Atualmente, é editora de Internacional na TV Globo, onde já participou de grandes coberturas, como as guerras na Ucrânia e na Síria e todas as eleições americanas desde 2008. Ganhou o Prêmio Vladimir Herzog, em 2019, com a série 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos: conquistas e fracassos. É autora do livro Baviera Tropical: A história de Josef Mengele, o médico nazista mais procurado do mundo, que viveu quase vinte anos no Brasil sem nunca ser pego (Todavia, 2023).

Jornalista e historiador. Formou-se em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em História pela PUC-SP. É mestre em História pela PUC-SP e doutor em História pela USP, especializando-se em nazismo e totalitarismo. Trabalhou como jornalista na Folha de S.Paulo entre 1990 e 2006. Está no jornal O Estado de S. Paulo desde 2006, onde é diretor de Opinião. É autor de três livros, todos pela Contexto: O futebol explica o Brasil (2009), Nazistas entre Nós (2016) e Holocausto e memória (2020). Em 2017, ficou entre os ganhadores do Prêmio Jabuti de Literatura na categoria Reportagem com o livro Nazistas entre nós.

Diretor e cofundador da Trovão Mídia, produtora de podcasts lançada em 2020. Como jornalista, trabalhou por mais de dez anos nas redações de Folha, Estadão e Nexo. É formado em história pela USP e em relações internacionais pela PUC-SP.

Mesa 8 | 02.12, sábado, 18h

Pode alguém escapar sozinho?

Com Lewis R. Gordon
mediação de Mylene Mizrahi

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Autor de Medo da consciência negra, o filósofo afro-judeu Lewis R. Gordon discutirá o antirracismo em suas articulações com outras questões de identidade e pertencimento, tais como gênero, classe social, nacionalidade, ideologia, política e religião.

Esta mesa integra a série Judeidade e Negritude, e tem o apoio da Casa Sueli Carneiro e do Instituto Brasil-Israel.

Intelectual público, acadêmico e músico afro-judeu. Ele leciona na Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, onde é Professor de Filosofia e Assuntos Globais do Conselho de Curadores e Chefe do Departamento de Filosofia com afiliação em Estudos Judaicos. Fundou e dirigiu o Centro de Estudos Afro-Judaicos e o Instituto para o Estudo da Raça e do Pensamento Social. É autor de vários livros, como Freedom, Justice, and Decolonization (Routledge, 2021) e Medo da consciência Negra (Todavia).

Antropóloga e professora na PUC-Rio, onde coordena o Estetipop – Laboratório de Pesquisa Etnográfica em Estéticas, Aprendizagens e Cultura Pop. É autora de A estética funk carioca: criação e conectividade em Mr. Catra (7Letras, Prêmio IPP-Rio Maurício de Almeida Abreu). Atua na interface entre Antropologia da Arte e Antropologia do Consumo. Sua trajetória de pesquisa se faz junto à dimensão sensível da vida social, partindo do campo da moda e do estilo e se desdobrando para as artes e estéticas periféricas.

Mesa 9 | 03.12, domingo, 11h

Quem é que pode deslembrar?

Com Bernardo Kucinski e Flavia Castro
mediação de Paulo Werneck

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Sob a ditadura militar, há 44 anos, era promulgada a Lei da Anistia, que, ao mesmo tempo que assegurava o perdão aos opositores do regime autoritário, garantia que as ações dos militares responsáveis por prisões ilegais, torturas e assassinatos fossem esquecidas. Mas quem poderia realmente se esquecer daqueles crimes: os algozes ou suas vítimas e seus familiares? A quem é dado o privilégio do esquecimento? Quem pode lembrar e quem pode des-lembrar – este o assunto desta mesa, que discute ainda modos de narrar a memória da ditadura.

Jornalista e escritor. Nasceu em São Paulo em 1937, graduou-se em Física na USP em 1972. Em 1991, obteve grau de doutor em Ciências da Comunicação pela USP, com tese sobre a imprensa alternativa no Brasil entre 1964 e 1980. Viveu num Kibutz em Israel, entre 1959 e 1961, e na Inglaterra entre 1971 e 1974, onde foi produtor e locutor da BBC e correspondente de Opinião e depois da Gazeta Mercantil. Participou da fundação dos jornais alternativos Movimento e Em Tempo e foi correspondente do jornal The Guardian. É autor de vários livros sobre economia, jornalismo e política, bem como de livros de ficção, entre os quais o romance K. Relato de uma busca, finalista de prêmios internacionais e nacionais e já publicado em dez idiomas.

Cineasta. Escreveu e dirigiu Diário de uma busca (2011), documentário premiado no Brasil e no exterior, no qual a diretora retraça a história da vida de seu pai, Celso, jornalista, militante de esquerda, que, em 1984, foi encontrado morto em Porto Alegre, no apartamento de um suposto ex- oficial nazista, onde entrara à força. Sua primeira ficção, Deslembro (2018) conta a história da adolescente Joana, que mora em Paris com a família, quando a anistia é decretada no Brasil. De um dia para o outro, e à sua revelia, organiza-se a volta para o país do qual mal se lembra. Flavia encerra a trilogia de sua “construção de lembranças” voltando à infância com “As vitrines (2023), ficção que se inspira nos três meses em que esteve abrigada com sua família e centenas de refugiados, na embaixada da Argentina em Santiago, logo após do golpe de Pinochet.

Paulo Werneck (São Paulo, 1978) é editor, jornalista e tradutor literário. Desde 2017 é diretor da revista Quatro Cinco Um, dedicada à crítica de livros.

Mesa 10 | 03.12, domingo, 14h

Para onde foi a minha casa?

Com Lena Gorelik e Prisca Agustoni
mediação de Sofia Mariutti

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O deslocamento territorial – forçado ou voluntário – enseja uma nova identidade cultural. O que e como se narra na língua do outro e que agora é também sua? A relação entre a experiência do exílio e as escolhas narrativas e poéticas de duas escritoras é o tema desta mesa, que explora ainda a questão do pertencimento, da língua e da identidade.

Esta mesa tem o apoio do Instituto Goethe.

Nascida em São Petersburgo em 1981, se mudou para a Alemanha em 1992 com seus pais como “refugiada contingente”. Seu romance de estreia, “Meine weißen Nächte” [Minhas noites brancas, 2004], trouxe-a para o centro das atenções, tendo sido elogiado pela revista Bücher. Depois disso, escreveu vários livros, como Hochzeit in Jerusalem [Casamento em Jerusalém, 2007, indicado ao Prêmio Alemão do Livro], Lieber Mischa… [Querida Misha, 2011] Mehr Schwarz als Lila [Mais preto que roxo, indicado ao Prêmio Alemão do Livro para Livros para Jovens Adultos]. Lena Gorelik mora em Munique com sua família.

Nasceu e cresceu em Lugano (Suíça), viveu dez anos em Genebra, onde se formou em Letras e Filosofia, e desde 2002 vive no Brasil, em Juiz de Fora, onde trabalha como Professora Associada de Literatura italiana da UFJF, atuando também como professora de Tradução e Escrita Criativa no curso de pós-graduação da mesma instituição. Tradutora, poeta, crítica literária, colabora como tradutora e resenhista com alguns jornais italianos como Internazionale e Il Sole 24 Ore. Como poeta, há anos desenvolve um trabalho multilíngue, escrevendo e se autotraduzindo em italiano, francês e português e publicando nos três contextos culturais. Entre suas publicações mais recentes se destacam Casa dos ossos (Macondo, 2017), O mundo mutilado (Quelônio, 2020, Finalista Prêmio Jabuti), Lingua sommersa (Isola, 2021), Pólvora (Macondo, 2022) e O gosto amargo dos metais (7 Letras, 2022; Prêmio Cidade de Belo Horizonte; Semifinalista Oceanos 2023). Com a versão italiana desse livro, cujo título é Verso la ruggine (Interlinea, 2022), ganhou o maior prêmio literário suíço, o Premio Federale di Letteratura 2023, além de ser finalista do prêmio italiano Franco Fortini.

Poeta, tradutora e editora. Fez mestrado em língua e literatura alemã pela Universidade de São Paulo (USP). Para a editora Todavia, traduziu do alemão a biografia Kafka: os anos decisivos, de Reiner Stach. Traduziu também diversos livros para selos infantis, como a Companhia das Letrinhas e a Boitatá. Coordena atualmente, na editora yiné, a coleção Arco de literatura brasileira. Já trabalhou como editora na Companhia das Letras e assinou a coluna “Léxico”, no jornal Nexo. É autora dos livros Abrir a boca da cobra (Círculo de Poemas, 2023), Vamos desenhar palavras escritas (Companhia das Letrinhas, 2023) e A orca no avião (Patuá, 2017).

Mesa 11 | 03.12, domingo, 16h

Ainda dá para sonhar?

Com Christian Dunker e Iddo Gefen
mediação de Ilana Feldman

 

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O sonho nasce nas profundezas do sono, mas a realidade social insiste em invadir esse espaço íntimo – às vezes na forma de pesadelo. O que sonhavam os judeus no período do Terceiro Reich? O que sonham israelenses e palestinos nas fronteiras entre Cisjordânia, Gaza e Israel? Pesquisadores descobriram que sonhos não apenas expressam uma determinada realidade, como também a subvertem, criando realidades alternativas. A mesa partirá dos sonhos de judeus durante o nazismo e de israelenses e palestinos que vivem próximos às zonas de conflito para discutir as complexidades da subjetividade humana e seu potencial para a imaginação de um futuro diferente.

Esta mesa tem o apoio do Instituto Brasil-Israel.

Psicanalista, professor titular do Instituto de Psicologia da USP, coordenador do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise (LATESFIP-USP), analista membro do Fórum do Campo Lacaniano. É autor de, entre outros, Estrutura e constituição da clínica psicanalítica (Annablume, Prêmio Jabuti 2012), Mal-estar, sofrimento e sintoma (Boitempo, Prêmio Jabuti, 2015), Reinvenção da intimidade (Ubu, 2016) e Lutos finitos e infinitos (Paidós, 2023).

Nasceu em Israel e, atualmente, reside na cidade de Nova York. Seu livro de contos Jerusalem Beach ganhou o Prêmio Sami Rohr (2023) e o Prêmio do Ministro da Cultura de Israel (2017). Em 2019, Gefen ganhou a bolsa “Pardes” da Biblioteca Nacional de Israel para jovens escritores. Seu romance de estreia, Mrs. Lilienblum’s Cloud Factory, será publicado pela Astra House em 2024. Iddo estuda psicologia cognitiva na Universidade de Columbia e no Instituto Zuckerman de Neurociências na cidade de Nova York, onde pesquisa sobre como contar histórias pode melhorar nossa compreensão da mente humana. Esse interesse o levou a coletar e escrever sobre sonhos de israelenses e palestinos que residem perto das fronteiras entre Israel, Gaza e Cisjordânia.

Professora adjunta da Escola de Comunicação da UFRJ e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da mesma instituição. É pesquisadora, ensaísta e curadora independente. Tem pós-doutorado em Meios e Processos Audiovisuais pela USP e em Teoria Literária pela UNICAMP. É doutora em cinema pela USP, com passagem pelo Departamento de Filosofia, Artes e Estética da Universidade Paris 8. Nos últimos anos, tem se dedicado a pesquisas em torno das relações entre testemunho, trauma, políticas da imagem e da imaginação na paisagem cultural contemporânea. É autora do ensaio “Não ver” (revista Serrote, n.38) no qual reflete, por meio de seus pesadelos noturnos, o cotidiano de uma Brasília sitiada pela pandemia, pelo fundamentalismo religioso e pelas assombrações do fascismo.

Mesa 12 | 03.12, domingo, 18h

Se eu cantar, vocês escutam?

Com Assucena e Fortuna
mediação de Daniel Douek

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“Preciso que me escutem!”, exclama Medeia, interpretada por Assucena, na abertura da peça Mata teu pai, ópera-balada. Mas como se fazer ouvir, quando ninguém parece interessado? Existe alternativa ao grito que, se alcança ouvidos alheios, também esgota a si mesmo? Esta mesa, que reunirá as cantoras Assucena e Fortuna, debaterá ancestralidade, gênero, raça e imigração a partir das possibilidades imaginativas da arte e, especialmente, da música.

Depois de seis anos na banda As Bahias e a Cozinha Mineira, incluindo dois Prêmios da Música Brasileira e duas indicações ao Grammy Latino, Assucena iniciou sua carreira solo em 2021 com “Rio e também posso chorar”, show em homenagem a Gal Costa que se transformou em tributo à artista que mais influenciou sua formação artística. Em paralelo, estreou no teatro em 2022 com a peça “Mata teu pai, Ópera-balada”, com texto de Grace Passô e direção de Inez Viana, pela qual foi indicada ao Prêmio Shell de Teatro 2023 como melhor atriz. Em setembro de 2023, lançou “Lusco-Fusco”, álbum autoral marcado pela brasilidade, pela diversidade de ritmos e pelo diálogo entre a tradição e o contemporâneo.

Cantora e compositora brasileira de origem judaica, tem uma trajetória musical de mais de 30 anos, inicialmente marcada pelas suas raízes do Oriente Médio (judaicas e árabes) e dos judeus da Espanha e Portugal (Sefarad). Pesquisadora de músicas do mundo, Fortuna estabelece pontes entre sua música e diversas religiões e culturas do mundo. Fortuna gravou, de forma independente, seus oitos CDs: La Prima vez (1993), Cantigas (1994), Mediterrâneo (1996, Prêmio Sharp 1997), Mazal (1999), Cælestia (2001), Encontros (2003), Novo mundo (2005), Ao vivo (2009) e Novos mares (2016). Em Novos mares, lançado em 2016 pelo Selo Sesc, Fortuna assina a composição de cinco das treze músicas do repertório do CD, traçando o percurso dos judeus orientais que saíram de Alepo (Síria) e do Oriente Médio em geral, cantando temas em árabe, hebraico e francês, e chegando ao Brasil, com o tema autoral Branca Dias, uma homenagem aos Cristãos Novos (Anussim) e ao Criptojudaísmo.