Se a empreitada moderna colonizou corpos, territórios e imaginários, com a botânica não foi diferente. Inúmeras espécies de plantas, muitas anteriormente nomeadas pelos povos originários, foram (re)batizadas com alcunhas misóginas, racistas, antissemitas e preconceituosas, perfazendo mais uma camada de violência simbólica contra identidades que escapam aos modelos normativos e hegemônicos.
Crítica a esse procedimento colonialista – e após ter recebido de presente uma muda de Tradescantia zebrina, corriqueiramente chamada de judeu errante –, a artista Giselle Beiguelman mapeou centenas de espécies de plantas submetidas à nomeação pejorativa, para então remixá-las de modo a produzir um verdadeiro jardim decolonial, no qual articula reflexões de ordem política e estética sobre o preconceito, a representação e a relação entre cultura e natureza – que a modernidade tornou indissociável.
A intolerância e a perseguição, assim como a resistência e a resiliência, são temas centrais da experiência judaica ao longo da história, assim como desafios absolutos do nosso tempo. A abordagem dessas temáticas pela produção artística contemporânea é um dos eixos basilares do Museu Judaico de São Paulo, por isso a honra de expor a produção atual de uma artista com quase três décadas de uma inquieta atuação nas artes e na academia.
É com entusiasmo que apresentamos Botannica Tirannica, mostra inédita de Giselle Beiguelman produzida especialmente para o MUJ, com curadoria de Ilana Feldman, e resultado de uma colaboração instigante entre a artista e a instituição a partir de um campo de investigação comum e, sobretudo, urgente.
Nossos agradecimentos aos mantenedores, patrocinadores, apoiadores e visitantes do MUJ, este museu que, mesmo recém-nascido, já se coloca a missão de construir coletivamente novos mundos e jardins.
Felipe Arruda, diretor executivo
Museu Judaico de São Paulo