Anna Bella Geiger – Limiar

EXPOSIÇÃO

28.06 a 21.09.25

A noção de limiar está presente em diversas áreas do conhecimento, evocando a ideia de transição; passagem. Tais atravessamentos, transposições e hibridações — sejam elas físicas ou metafóricas — são noções centrais para a obra de Anna Bella Geiger.

Artista carioca, Geiger (nascida Waldman) é reconhecidamente uma
das mais importantes e prolíficas da arte brasileira. Filha de imigrantes judeus poloneses, Geiger traz a desterritorialização e os questionamentos acerca dos lugares da ação como parte constitutiva de sua geografia pessoal: uma experiência que fornece campo fértil para reflexões sobre a diáspora, o encontro com a alteridade e os modos de se pensar a própria linguagem.

EW 18 com tendência neo-concreta [With Neo-concrete Tendency] 1981.
Crédito: Cortesia [Courtesy] Mendes Wood DM

Cartografar e transpor, para a artista, é fazer da geografia um lugar da arte. Geiger possibilita, por meio de um traçado imaginário de meridianos e paralelos, a reflexão sobre o regional e o global, o presente e o passado, o interior e o exterior, o eu e o outro. Muitos de seus trabalhos tratam diretamente da complexa noção de espaço, ora subvertendo convenções cartográficas, ora tensionando imaginários que organizam hierarquicamente o território e a sociedade.

Anna Bella Geiger — Limiar apresenta cerca de sessenta trabalhos e fotografias documentais sobre a prática da artista, em que se desdobram cinco grandes eixos conceituais: espaços, criação-proposição, linguagem, desterritorialização-transposição e imaginação política. A trajetória de Geiger, iniciada nos anos 1950 e ainda intensamente fértil, é explorada de maneira transversal entre esses eixos, evidenciando recorrências temáticas, o emprego de múltiplas linguagens, a exploração de espaços compartilhados para experimentação e o constante questionamento do estatuto da obra de arte e seu papel político.

A exposição busca explorar essas passagens e limiares na vasta produção da artista, por meio de trabalhos emblemáticos de diferentes períodos — de 1962 a 2025.

A mostra se abre com a série Situações-limite na qual, sob fragmentos fotográficos em preto-e-branco, a artista replica a frase manuscrita “A imaginação é um ato de liberdade”. Criadas em 1974, no auge da ditadura civil-militar, esses trabalhos ecoam a repressão e o autoritarismo de então e insinuam um novo porvir. A atualidade da obra se reafirma ao nos convocar, hoje, a imaginar futuros comuns sobre esta Terra.

Ao explorar as mais distintas linguagens em sua obra, Geiger propõe jogos de invenção-criatividade, convidando o espectador a refletir sobre o mundo que o cerca e nossa capacidade de imaginar novas realidades. Primeira individual da artista realizada em um Museu Judaico, os limiares —  centrais na obra Geiger — podem sugerir também potentes conexões com a história e a cultura judaica, incluindo as noções de polissemia e trânsito cultural. 

A exposição Anna Bella Geiger — Limiar convida-nos, por fim, a um exercício de imaginação política, urgente e desafiador em tempos de crise. Limiar que, sugere a artista, só poderá ser transposto em constante movimento.

Priscyla Gomes e Mariana Leme
Curadoras

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