No marco dos 200 anos do fechamento do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição em Portugal, completos em 2021, o Museu Judaico de São Paulo apresenta em sua exposição inaugural o funcionamento dessa estrutura que moldou a mentalidade ibérica e colonial, instaurando uma sociedade da dissimulação e da hipocrisia. Mais do que isso, essa mostra busca realçar a luta dos cristãos-novos para reconstruir suas vidas no Brasil durante os 300 anos de vigência do Tribunal, instituição que os proibia de manter suas tradições judaicas.
Desde o século I E.C. há registros da presença de judeus na Península Ibérica. Durante séculos viveram, prosperaram e participaram da política e da economia, contribuindo para o desenvolvimento da região. Graças à coexistência dos judeus com cristãos e muçulmanos, as nações ibéricas (Portugal e Espanha) floresceram intelectual e culturalmente.
No entanto, com a reconquista cristã e a nova política ocorreram conflitos que culminaram na expulsão dos judeus da Espanha, em 1492, e na conversão forçada ao catolicismo em Portugal, em 1497.
Com suas ideias, produção literária e práticas secretas, desafiaram a parceria entre a Coroa e a Igreja, da qual o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição era o instrumento de controle. Muitos vieram para o Brasil, em busca de oportunidades de vida longe da vigilância inquisitorial. Apesar da legislação discriminatória, integraram-se à vida colonial, ocuparam cargos públicos e auxiliaram no desenvolvimento econômico, na agricultura e no comércio, formando uma elite intelectual. O Santo Ofício, contudo, seguiu seus rastros e levou muitos cristãos-novos luso-brasileiros para os cárceres de Lisboa.