Segundo Freud, o estranho (ou unheimlich) é aquilo que perturba justamente por ser, de forma velada, familiar: uma verdade psíquica que foi reprimida e retorna de forma inquietante. Essa verdade, a sensação de desamparo do sujeito, nos obriga a encarar que o mal, o medo e o sofrimento não estão apenas no outro, mas também dentro de nós.
Como essa ideia pode nos ajudar a encontrar uma posição ética capaz de abandonar a lógica binária de “lado certo” e “lado errado”, ou “do bem” e “do mal”? O binarismo impede o advento da palavra, arma de resistência à destruição, cujo efeito mais imediato — a paz — não é perene e, muitas vezes, nem duradouro.
Paulo Sérgio de Souza Jr. é psicanalista e tradutor. Coordenador da série Pequena biblioteca invulgar e autor, pela mesma editora, de O fluxo e a censura: um ensaio em linguística, poética e psicanálise (Blucher, 2023).
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Nina Virginia de Araújo Leite, psicanalista, membro fundadora do OUTRARTE – psicanálise entre ciência e arte IEL/UNICAMP.
Betty B. Fuks é psicanalista e doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Autora de Vocação do exílio: Freud, psicanálise e Judeidade (Zahar, 2025); Freud e a Cultura (Zahar, 2003), entre outros.