FliMUJ

1º Festival Literário
Museu Judaico SP

“Em que ponto está a noite, sentinela?”

Primo Levi, no poema Nachtwache, de 1983
FliMUJ 2022

Na tradição judaica, que remonta ao Talmud, uma pergunta é respondida com outra pergunta. Um ato de liberdade que nos permite perseguir as perguntas mais férteis — ainda que, muitas vezes, elas não sejam plenamente respondíveis. O melhor pensamento é aquele que nunca deixa de ser interrogativo, mesmo nas certezas profundas. Na virada do século 19 para o 20, Sigmund Freud afirmava que escritores e poetas já eram capazes de alcançar o inconsciente antes da psicanálise nascente — que também tem o judaísmo na sua gênese. A literatura é esse bicho que vem à superfície nos provocar a pensar.
O primeiro festival literário promovido pelo Museu Judaico de São Paulo foi pensado como uma miríade de perguntas polifônicas. Uma tentativa de escavar as complexidades que tantas vezes não cabem em palavras. A literatura, afinal, é capaz de tratar das “coisas indizíveis, não ditas”, nas palavras de Toni Morrison.

Em épocas de incertezas, as sensações e os questionamentos provocados pelos livros abrem fissuras para que possamos sonhar. “A literatura permanece o lugar em que, como parte da tentativa cada vez mais urgente de mudar o mundo, o impensável ainda pode ser escrito e escutado”, escreveu a crítica literária Jacqueline Rose, em 2019. Na literatura, ainda, as perguntas podem ser feitas sem ponto de interrogação. Na ficção, temas como luto, memórias coletivas, tradições religiosas e sociais, experiências da diáspora, tensões sociais, perseguições raciais, patriarcais e políticas, nos envolvem em histórias íntimas, fluxos de pensamento, e narrativas sustentadas por formas únicas de escrita. Esse é o trançado que desejamos trazer para o público nesses quatro dias de encontros.

O dia do perdão – Yom Kipur – , data mais importante do judaísmo, antecede o Festival. Logo depois do período de reflexão profunda e reconciliação com o sagrado e com as pessoas, o Museu inicia um evento literário em que escritoras e escritores farão perguntas entre si e a artistas e intelectuais de diferentes origens, crenças e campos do conhecimento. É também simbólico que, ao final do quarto dia de festival, comece Sucot, a Festa das Cabanas, que rememora tempos de nomadismo no deserto, da travessia da escravidão para a liberdade. Estamos disponíveis para um novo ciclo?

Bianca Santana e Fernanda Diamant

programação

06 de outubro, quinta-feira, às 18h

Existe uma
judeidade literária?

Betty Fuks e Yudith Rosenbaum
com mediação de Daniel Douek

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A construção de identidade judaica na diáspora, as tradições religiosas e sociais, e a violência psíquica causada pelo trauma e pelo preconceito são insumos para a literatura e para a produção intelectual nos diferentes campos do conhecimento. Os reflexos das origens judaicas na obra de Clarice Lispector e na gênese da psicanálise — que tanto reverbera na produção literária contemporânea — são os pontos de partida desse encontro que inaugura o festival.

Betty Fuks é psicanalista e autora de “Freud e a Judeidade: A vocação do exílio” (Zahar, 2000) e “Freud e a Cultura” (Zahar, 2003).

Yudith Rosenbaum é professora e especialista em autores do século XX, como Manuel Bandeira, Clarice Lispector e Guimarães Rosa.

Daniel Douek é diretor do Instituto Brasil-Israel e pesquisador do Centro de Estudos Judaicos da USP.

06 de outubro, quinta-feira, às 20h

Eretz tropical?

Lira Neto e Márcio Souza
com mediação de Rita Palmeira

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Pouca gente sabe que os judeus sefarditas são parte fundamental da história das Américas desde o século 17. A fuga das perseguições da Inquisição na Península Ibérica, a ocupação da ilha de Manhattan, a presença holandesa no Recife, os judeus marroquinos que imigraram para o Pará no século 19, os judeus-caboclos do ciclo da borracha serão algumas das histórias tratadas nessa conversa entre dois grandes escritores brasileiros.

A mesa “Eretz tropical?” conta com a colaboração da livraria Megafauna

Lira Neto é jornalista e escritor, autor de “Padre Cícero: Poder, fé e guerra no sertão” (Companhia das Letras, 2009), vencedor do Jabuti em 2010 e “Uma história do samba: as origens” (Companhia das Letras, 2017), entre outros.

Márcio Souza é jornalista, roteirista e escritor, autor de “Galvez, o imperador do Acre” (Record, 1976) e “Mad Maria” (Record, 1980), entre outros.

Rita Palmeira é crítica literária e editora da Revista Novos Estudos do Cebrap.

07 de outubro, sexta-feira, às 16h

A tchotchke
virou tchutchuca?

Amara Moira e Paula Janovitch
com mediação de Marilia Neustein

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A história singular das judias polonesas, conhecidas como polacas, forçadas à prostituição na primeira metade do século 20, mostra como essas mulheres criaram modos de sobreviver ao serem excluídas de sua comunidade. Elas, que não puderam ser enterradas dentro dos cemitérios judaicos, têm agora suas imagens projetadas na cúpula da antiga sinagoga que abriga este Museu, e abrem os caminhos para uma conversa sobre outras mulheres que ainda hoje têm suas existências ameaçadas e que ao mesmo tempo são agentes poderosas de seus destinos.

Amara Moira é travesti, feminista, doutora em teoria e crítica literária pela Unicamp e autora dos livros “E se eu fosse puta” (hoo editora, 2016) e “Neca + 20 Poemetos Travessos” (O Sexo da Palavra, 2021).

Paula Janovitch é antropóloga, historiadora e autora de “Preso por Trocadilho” (Alameda, 2006).

07 de outubro, sexta-feira, às 18h

Onde andam os Guarani?

Timóteo Verá Tupã Popyguá e Renato Sztutman
com mediação de Valéria Macedo

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Por mais distantes que possam parecer à primeira vista, as culturas indígena e judaica, nas suas mais variadas manifestações, podem ser entrelaçadas em temas essenciais, tanto históricos quanto relativos a suas tradições. A relação com a terra é um deles, as perseguições e os projetos de extermínio são outros. Mas também a delicada relação com a música e as histórias transmitidas entre gerações. Nesta conversa, Timóteo Verá Tupã Popyguá, liderança guarani, autor do livro “A Terra uma só” — que conta seu aprendizado nos caminhos que percorreu junto ao seu povo Guarani Mbya — conversa com Renato Sztutman, antropólogo e professor da Universidade de São Paulo.

Timóteo Verá Tupã Popyguá é líder guarani e autor de “Yvyrupa – A terra uma só” (Hedra, 2006).

Renato Sztutman é antropólogo, pesquisador e professor do departamento de Antropologia da USP.

Valéria Macedo é antropóloga e professora no Departamento de Ciências Sociais da Unifesp.

07 de outubro, sexta-feira, às 20h

Racismo e antissemitismo estão suficientemente narrados?

Deivison Faustino, Noemi Moritz Kon
e Lilia Moritz Schwarcz,
com mediação de Fernanda Diamant

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Contar os traumas – no divã, na literatura, no cinema, nas artes do corpo – é um caminho efetivo para processá-los, tanto individual quanto coletivamente. Na clínica psicanalítica e na literatura brasileira, como têm sido elaborados o racismo antinegro e o antissemitismo?

Deivison Faustino é sociólogo, professor da Unifesp, integrante do Instituto Amma Psique e Negritude e autor de inúmeros livros e artigos sobre o pensamento de Frantz Fanon.

Noemi Moritz Kon é psicanalista e escritora, autora de “Freud e seu duplo – Reflexões entre psicanálise e arte” (Edusp, 1996) e organizadora do livro “O racismo e o negro no Brasil: Questões para a psicanálise” (Perspectiva, 2019).

Lilia Schwarcz é historiadora, antropóloga e escritora, autora de “O espetáculo das raças” (Companhia das Letras, 1993) e As barbas do imperador (Companhia das Letras, 1998), vencedor do prêmio Jabuti de 1999, entre outros livros.

Fernanda Diamant é jornalista e editora. Uma das criadoras da editora Fósforo e da Megafauna – Livros no Centro, foi uma das fundadoras da revista Quatro Cinco Um, que editou de 2017 a 2019.

08 de outubro, sábado, às 11h

O Brasil foi algum dia
a favor da democracia?

Débora Maria da Silva e Roberto Simon
com mediação da Thais Bilenky

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Em regimes autoritários, como as ditaduras vividas no Brasil, na Argentina e no Chile, o Estado viola direitos sob pretextos como garantir a segurança nacional. Regimes autoritários deixam sequelas, assim como a escravidão deixou. Mesmo em períodos democráticos, o Estado brasileiro impõe terror a parte expressiva de sua população, principalmente negra e indígena, uma das manifestações macabras herdada desse passado. Débora Maria da Silva, uma “mãe de maio”, que teve o filho assassinado em São Paulo no ano de 2006, e Roberto Simon, que contou em seu livro como a ditadura brasileira ajudou na derrubada da democracia chilena conversam sobre violência de Estado: presente, passado, futuro.

Débora Maria da Silva é ativista pelos direitos humanos e fundadora do movimento Mães de Maio.

Roberto Simon é jornalista e analista internacional. Colunista da Folha de S.Paulo contribuiu para outros veículos como Foreign Affairs, Financial Times, Wall Street Journal e La Nación (Argentina), além do jornal O Estado de S. Paulo.

Thais Bilenky é jornalista e repórter da Revista Piauí. Apresentadora do podcast “Foro de Teresina”, foi correspondente internacional em Nova York pelo jornal Folha de S.Paulo.

08 de outubro, sábado, às 14h

O que os mortos estão sonhando?

Tiganá Santana e Noemi Jaffe
com mediação de Jerá Guarani

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O mais recente livro da escritora Noemi Jaffe trata da morte de sua mãe, Lili, em fevereiro de 2020, aos 93 anos. Sobrevivente do Holocausto, Lili Jaffe era iugoslava e escreveu um diário relatando o que viveu em Auschwitz – publicado em 2012 com o título O que os cegos estão sonhando? Sua filha transcende seu relato brutalmente honesto sobre o luto e cria um grande elogio à memória. No judaísmo, assim como em tradições bacongo, a memória tem papel central. Tiganá Santana traduziu, em sua tese de doutorado, A cosmologia africana dos Bantu-Kongo, de Bunseki Fu-Kiau, além de ter produzido reflexões e diálogos com essa obra fundamental.

Uma conversa entre Noemi Jaffe e Tiganá Santana, mediada pela professora Jerá Guarani, é uma oportunidade de entrelaçar acepções milenares do luto.

Tiganá Santana compositor, cantor, instrumentista, poeta, diretor artístico, curador, pesquisador, professor e tradutor. É autor da tese “A cosmologia africana dos Bantu-Kongo por Bunseki Fu-Kiau: tradução negra, reflexões e diálogos a partir do Brasil”.

Noemi Jaffe é crítica literária e autora de “A verdadeira história do alfabeto”, (Companhia das Letras, 2012) e “ O que ela sussurra” (Companhia das Letras, 2020).

Jerá Guarani é pedagoga e liderança na aldeia Tenonde Porã, é também agricultora e atua nas esferas pública e privada para garantir o bem-estar de seu povo, localizado no bairro de Barragem, no distrito de Parelheiros, São Paulo.

08 de outubro, sábado, às 16h

E agora, para onde vamos?

Sueli Carneiro e Eva Blay
com mediação de Bianca Santana

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Mulheres fundamentais para a redemocratização do país construíram alianças sem deixar de tratar das diferenças – e de aprender com elas. Desde o Conselho Estadual da Condição Feminina, criada em São Paulo na gestão Montoro, ao feminismo enegrecido dos dias atuais, mulheres como Eva Blay e Sueli Carneiro têm apontado caminhos percorridos coletivamente. Em um momento de tantas dúvidas e angústias, resta a certeza de que o futuro é feminino.

Sueli Carneiro é filósofa, escritora e ativista antirracismo. Fundadora e atual diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra, é autora de “Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil” (Selo Negro, 2011) e “Escritos de uma vida” (Jandaíra, 2019).

Eva Blay é socióloga, professora e senadora. Autora de “Trabalho domesticado: a mulher na indústria paulista” (Ática, 1978), “Assassinato de mulheres e direitos humanos” (Editora 34, 2008), entre outros livros.

Bianca Santana é escritora e autora de “Arruda e guiné: resistência negra no Brasil contemporâneo” (Fósforo, no prelo), “Continuo preta: a vida de Sueli Carneiro” (Companhia das Letras, 2021) e “Quando me descobri negra”(SESI-SP, 2015).

08 de outubro, sábado, às 18h

Quer voltar para casa?

Ayelet Gundar-Goshen e Natalia Timerman
com mediação de Fernanda Diamant

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Thriller psicológico, romance histórico, autoficção. Duas escritoras da mesma geração, uma israelense e outra brasileira, ambas com formação também em psicologia conversam sobre o tratamento literário de temas como violência, machismo, alteridade, diáspora, imigração e integração. Como tratar de assuntos tão contemporâneos através da arte em tempos de cancelamento, afirmação política e sensibilidades à flor da pele?

A mesa “Quer voltar para casa?” conta com a colaboração da Editora Todavia, Organização Sionista Mundial, Instituto Brasil-Israel, Consulado Geral de Israel no Brasil e Embaixada de Israel no Brasil.

Ayelet Gundar-Goshen é psicóloga, roteirista e autora de “Uma noite, Markovitch” (Todavia, 2018) e “Outro Lugar” (Todavia, 2022).

Natalia Timerman é psiquiatra e autora de “Desterros: história de um hospital-prisão” (Elefante, 2017) e “Copo Vazio” (Todavia, 2021).

Fernanda Diamant é jornalista e editora. Uma das criadoras da editora Fósforo e da Megafauna – Livros no Centro, foi uma das fundadoras da revista Quatro Cinco Um, que editou de 2017 a 2019.

09 de outubro, domingo, 11h

A sinagoga ficava na Abolição?

Raquel Rolnik e Allan da Rosa
com mediação de Fernanda Diamant

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Os rios do centro de São Paulo correm fora do alcance dos nossos olhos. Quando chove demais, notamos sua presença fantasmagórica. Camadas de demolições e novos edifícios compõem o caótico palimpsesto de concreto. Dois especialistas na configuração desigual do nosso tecido urbano nos levam pela mão para um passeio pelo multifacetado entorno do MUJ no passado, no presente e nas possibilidades de futuro.

Raquel Rolnik é arquiteta especializada em política habitacional, planejamento e gestão da terra urbana. Autora de “A Cidade e a Lei: legislação, política urbana e territórios na cidade de São Paulo” (Nobel, 2013) e “O que é Cidade” (Brasiliense, 1994), entre outros.

Allan da Rosa é escritor, angoleiro, historiador e escritor. Integra, desde o início, o Movimento de Literatura Periférica de SP e foi editor do selo Edições Toró.

Fernanda Diamant é jornalista e editora. Uma das criadoras da editora Fósforo e da Megafauna – Livros no Centro, foi uma das fundadoras da revista Quatro Cinco Um, que editou de 2017 a 2019.

09 de outubro, domingo, 14h

Onde se tocam religião e arte?

Nilton Bonder e Leda Maria Martins
com mediação de Ilana Feldman

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Tempo, memória, as relações entre o corpo físico e a espiritualidade, as expressões do sagrado são temas da produção artística e intelectual da poeta, ensaísta, professora e rainha de Nossa Senhora das Mercês, Leda Maria Martins, e do escritor, dramaturgo e rabino da Congregação Judaica do Brasil Nilton Bonder. A cultura brasileira, as tradições e filosofias judaicas e africanas se cruzam em uma conversa entre pensadores e artistas que ao mesmo tempo exercem papéis protagonistas na prática da religião.

Nilton Bonder é rabino e autor de “A Alma Imoral” (Rocco, 1998) e “Exercícios d’alma” (Rocco, 2000), vencedor do Jabuti.

Leda Maria Martins é poeta, ensaísta, acadêmica e dramaturga brasileira. Autora de “O moderno teatro de Qorpo-Santo” (UFOP, 1981), “A cena em sombras” (Perspectiva, 1995) e “Afrografias da memória” (Perspectiva, 1997).

Ilana Feldman é pesquisadora, ensaísta e curadora. É autora da tese “Narrar o trauma, escrever o luto e imaginar, apesar de tudo: testemunho e autobiografia entre cinema e literatura”.

09 de outubro, domingo, 16h

Rir pra não chorar?

Luís Miranda e Michel Melamed
com mediação de Stephanie Borges

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Freud escreveu que o humor judaico seria uma forma de agressão sublimada das vítimas de perseguição. Outros dizem que a origem desse humor remonta a Abraão, informado por Deus de que Sarah teria um filho aos 91 anos. De todo modo, o humor pode funcionar como mecanismo de defesa contra injustiças ou possibilidade amigável de autocrítica. Levado a sério no judaísmo, ele se mistura com todos os gêneros artísticos e literários. Nem só de comédia vive o humor.

Michel Melamed é apresentador, ator, poeta, autor e diretor teatral brasileiro. Foi um dos fundadores e dirigiu o Centro de Experimentação Poética, mais conhecido como CEP 20.000, ao lado dos poetas Chacal e Guilherme Zarvos.

Stephanie Borges é jornalista, tradutora e poeta, autora de “Talvez precisemos de um nome para isso” (CEPE, 2019).

Luís Miranda é ator, diretor e comediante brasileiro, com trabalhos no teatro e cinema, além de ser conhecido por seus personagens icónicos na tv. Foi vencedor do 32º. Prêmio Shell de Teatro por seu trabalho na peça “O Mistério da Irmã Vap”.